segunda-feira, 31 de agosto de 2009







ninguem nasce pela metade,
ninguem morre pela metade,

pela metade, é melhor nem viver.
pensar em determinada direção já é mais da metade do caminho percorrido.
pelo menos é assim que tenho visto as coisas.
e, se isso é verdade, tenho percorrido muitos caminhos,

preciso pensar menos;
ou então aprender a me contentar com um monte de caminhos incompletos.
não nascemos um para o outro,
e, ainda assim, as vezes, acho que poderia morrer de amor por alguém ou por alguma coisa.
mas só de pensar que morreria sozinho, desisto de pular.

não morremos um pelo outro,
e, mesmo assim, as vezes, acho que nasci para alguém, ou para alguma coisa.
mas só de pensar que nasceria sozinho, aborto.

não vivemos um para o outro,
mas, as vezes, ainda acho que só existimos morrendo de amor
vez ou outra ainda acho que nascemos para amar.
mas só de pensar em amar, nasço e morro um milhão de vezes.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

falso moralismo

não tenha, seja.
não seja, sinta.

não pense, ame.
não ame, esqueça.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

o alienado teimoso e o cético chato.

sim, ainda estou olhando para a mesma pedra. sim, ainda acho que ela vai se mexer. e, nada que você disser me fará desviar o olhar. vou ficar aqui pelo resto da minha vida com o olhar fixo e ansioso. cara, por quê isso te incomoda tanto? não adianta mudar o método, mudar os objetivos, resultados. não adianta mudar as regras, não adianta ganhar prêmios; vou continuar olhando fixamente para essa pedra. sim, a mesma pedra. o que posso fazer? eu sinto que ela vai se mexer. sei que parece absurdo. todo mundo sabe disso; mas, desculpe, não posso fazer nada. eu acredito, eu sinto, e vou passar o resto da minha vida esperando. desculpa a pergunta, cara, mas você já se apaixonou?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

a realidade é feita de memórias contrapostas com o presente.
se não existe memória, não existe realidade.
se eu não lembro mais de você,
se eu já não penso mais em você,
é porque você não existe mais.

aceitamos o simples para sofrer menos.


segunda-feira, 17 de agosto de 2009

caralho! pensar é pior do que cigarro.



cansado de envelhecer
cansado de amanhecer
mas tudo sempre anoitece, esfria e fica difícil de ver
mas tudo sempre volta no horizonte com cores quentes, sobe até o topo e depois se acalma.

boa tarde.


olhar para dentro
dentro
dentro
dentro
dentro

olhar para longe
longe
longe
longe
longe

tudo parece tão longe
dentro
dentro
dentro
dentro

tudo parece tão dentro.
longe
longe
longe
longe



se isso fosse mesmo necesário eu não teria que usar óculos.

domingo, 2 de agosto de 2009


o rio e as pedras.

no meio do fluxo da correnteza do centro da cidade ele sentiu uma vontade súbita de olhar para o céu. sentia vontade mas parecia não ter coragem. era final de tarde e as pessoas pareciam apostar corrida para chegar em seus lares. parou no canto da calçada e algumas pessoas esbarravam no seu ombro como as águas de um rio empurram as pedras que param. sentiu-se travado. o rio parecia determinado a arrastá-lo correnteza abaixo e ele continuou andando. fazia calor. ele usava calça, sapatos e uma blusa social de manga comprida cor azul-marinho como exigia seu emprego. seu corpo e seus pensamentos se encontravam num cansaço acumulado que refletia claramente nos seus olhos opacos. ouvia-se um barulho único feito de vozes, gritos, passos, respirações pesadas, motores e buzinas. via-se também uma cor única formada por roupas multicoloridas, pessoas multicoloridas, carros multicoloridos, um asfalto e paredes cinzas. por mais que ele quisesse, ao fim de mais um dia, se abster de qualquer pensamento, uma vontade agora constante o fazia querer olhar para o céu. então parou no canto da calçada novamente. dessa vez mais seguro, ele colocou a mão na parede descascada de uma loja de eletrodomésticos empueirados, fechou os olhos, suspirou profundamente e olhou para cima. por mais que os edifícios quisessem, numa perspectiva até o infinito, tapar o céu, ele ainda estaria lá, azul e sublime com suas nuvens borradas de branco acinzentado de final de tarde. ele ignorou os edifícios, fixou os olhos no céu, e, de uma só vez todas as multicores que o enchiam de direções e o entupiam de sensações, deram lugar ao azul claro que o fazia piscar os olhos agora com calma e respirar mais suavemente. os barulhos sumiram e ele sorriu com uma respiração profunda de alívio; sentiu um calafrio bom pelo corpo e o calor também deu lugar à uma brisa suave de final de tarde; sentia-se como alguém que chega à superfície da água depois de quase morrer afogado; sorria como bobo; sorria como quem não acreditava e descobre. uma mulher, com o mesmo olhar de final de expediente, corpo cansado e saturado de tanto acúmulo, passava por ele na mesma calçada. o viu olhando para cima e sorrindo, e, mesmo sem saber o porquê, também olhou curiosa. num instante os dois estavam como duas crianças rindo com os olhos fixos no céu. outras pessoas que também passavam perto ficaram curiosas e olharam; e descobriam, uma a uma, o alívio do não afogamento. mais um instante e já eram 7 pessoas olhando para o céu e rindo. logo eram 15. as pessoas saíam curiosas das lojas; outras colocavam a cabeça para fora dos carro, dos ônibus, das janelas dos edifícios. mais um instante e um quarteirão inteiro de pessoas estava parado e rindo. o rio estava parado. o rio estava parado! mais um instante,e , devagar as pessoas foram abaixando a cabeça, sentindo-se apressadas novamente e voltavam a andar. num instante seguinte o fluxo corria novamente como há dois minutos atrás. as multicores, o som único de todas as coisas acumuladas, o cansaço corporal e mental, a vontade de chegar em casa; tudo ia voltando. o rio voltara a correr normalmente. o rio voltara a correr novamente!