terça-feira, 13 de abril de 2010

por nada

por aqui as coisas acontecem certas, iguais e lentas. certas, iguais, lentas e estáveis, o que é ainda mais desesperador. por aqui as pessoas estão cada vez mais limpas e mais sérias. as ruas e as paredes mais civilizadas, mais simétricas, monocromáticas e tristes. mas o estranho é que, ao mesmo tempo , tudo é muito ameaçador. mas não é uma ameaça voraz, sanguinária, caótica (sim, existe essa também, mas essa é muito mais branda, posso garantir - essa sai no jornal, poucos sabem e todos esquecem). por aqui, a ameaça é fria, calma, matematicamente certeira. a ameaça aqui não é vermelha, não é nas sarjetas, não é na dor, não é na fome, não é na arte, não é na explosão, isso tudo já é óbvio demais pra ser ameaçador. a ameaça, por aqui, não tem cor, não tem cheiro, não tem nada. a ameaça aqui, - essa mesmo, que segura nosso passo e faz ele ser lento, triste e fraco ; essa mesmo que todo mundo conhece muito bem e não esquece em nenhum momento - não tem forma, não tem nome, não tem... não tem nada. e é disso que eu tenho medo: do nada.

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